“A redução de danos pode ser considerada a principal estratégia de cuidado a usuários de drogas utilizada, hoje, no campo da Saúde Pública”, destaca a assistente social e psicóloga Patrícia Maia von Flach. No texto a seguir, a professora Patrícia, que também é consultora técnico-científica da 7ª edição do Curso, explica o que é redução de danos e conta um breve histórico da sua ação no Brasil.    

“Redução de danos é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de usar drogas. Por definição, a redução de danos foca na prevenção aos danos, ao invés da prevenção do uso de drogas, intervindo com pessoas que seguem usando drogas. São práticas em saúde que consideram a singularidade dos sujeitos, que valorizam sua autonomia e que constroem com o usuário projetos de vida que priorizem sua qualidade de vida. Manter as pessoas que usam drogas vivas e protegidas de danos irreparáveis são consideradas prioridades.

No Brasil, ações de redução de danos começaram em 1989, no município de Santos, SP, por meio da iniciativa inédita de realizar a troca de seringas entre usuários de drogas injetáveis (UDI), suspensa posteriormente por decisão judicial. O primeiro programa de redução de danos  a trocar seringas no Brasil surgiu em Salvador, BA, no Observatório Baiano sobre Substâncias Psicoativas (CETAD Observa), em 1995. Depois deste, diversos programas e projetos de redução de danos são implantados em estados brasileiros, consolidando-se como uma estratégia de atenção aos usuários de drogas.

Em 1998 é sancionada, no estado de São Paulo, a primeira lei estadual que legaliza a troca de seringas. Seis anos depois, a Redução de Danos passa a ser vislumbrada como uma estratégia na Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas, quando lançada pelo Ministério da Saúde, em 2004.

O redutor de danos é o profissional que trabalha no campo da redução de danos. Para tanto, deve aceitar as pessoas como elas são, evitando julgar comportamentos, opondo-se firmemente à estigmatização de pessoas que usam drogas. De início, os redutores de danos eram pessoas que usavam drogas ou pessoas próximas e familiarizadas com o universo do uso, abertas à linguagem e às dimensões e cultura dessa realidade. Atualmente, qualquer pessoa, trabalhador ou cidadão tem sua participação no sentido de protagonizar a redução de danos nas práticas intersetoriais de promoção da vida das pessoas que usam drogas e de sua rede social e afetiva.

Abaixo segue a entrevista, realizada pelo CETAD Observa, no dia 9 de novembro de 2015, com o redutor de danos Anselmo Luiz Santana Santos, de 52 anos. Quem o entrevista é Renata Pimentel, psicóloga e membro técnico do CETAD Observa.

Você conheceu a redução de danos como?

No CAPS. Eu vi uma redução de danos acontecer em mim. Eu vi aquilo acontecer. No CAPS eu eduquei o meu uso. Eu já uso a droga sem prejudicar minha vida. Eu tenho minha vida profissional, familiar. Eu não tenho mais problema com o uso de drogas. O Gessé foi o meu redutor de danos. Aí eu aprendi muito com ele. Com aquela paciência toda.

Minha militância começou quando eu tive um curso no CETAD mesmo e fui convidado pra fazer um curso, que eu já tava naquela fase de ter alta e tudo. Aí a AMEA (Associação de Usuários e Familiares dos Serviços de Saúde Mental do Estado da Bahia) me chamou pra fazer o curso de Cidadania e Direito das pessoas que têm transtorno mental. Eu fiz esse curso.

Aí de repente nesse curso rolou a Declaração dos Direitos Humanos. Aí eu descobri que até a gente tinha direito de fazer uma associação. De ter uma associação. Aí eu pensei: pô cara!, eu já sofri tanta coisa, passei tanta coisa por ser usuário de drogas. Aí já fui pro CAPS de novo, quando eu saí daqui do curso. Já fui juntando a galera e a gente começou a fazer reunião de usuários de drogas. E o lema da gente era: “Um cuidar do outro”.

O que é redução de danos?

Pra mim, redução de danos, antes, tinha as trocas de seringas e tal. Antigamente tinha mais usuário UDI (Usuário de Drogas Injetáveis). […] Hoje, eu comecei a estudar. Comecei a estudar os efeitos. Coisa que eu não sabia. Eu era usuário, mas não sabia os efeitos que as drogas faziam em mim.

E você acha que saber os efeitos das drogas fez com que você usasse de uma forma diferente?

Sim. […] Se eu vejo que estou em um uso assim, passando daquilo que eu propus pra meu uso, eu começo a procurar estratégias […] Estratégias pra que eu volte aquilo de não ter mais o uso abusivo.

Estratégias como?

Estratégias como me dedicar a outras coisas […] Agora eu percebo mais que eu tenho outras maneiras de resolver algum problema, tanto sentimental ou que seja outro, sem que tenha uma droga ali. Então, tanto que eu vou resolver minhas coisas agora de cara. Se tiver de usar, uso depois…  A droga em minha vida teve o significado de aliviar um pouco o meu sofrimento. É por isso que eu acho que tem que legalizar mesmo. Talvez, assim, legalizando vai ter imposto. Aí o imposto seria destinado para o tratamento dos usuários.

O que faz um redutor de danos?

Olha, não é um policial que vai na boca, nem um psicólogo. O redutor de danos tem que ir lá. Com relação aos moradores de rua, é chegar assim e dizer “Pô, cara!, você tem direito de ficar na rua se você quiser, você não é obrigado a sair da rua, mas contanto que você saiba os seus direitos e viva na rua sem causar danos a você. A mesma coisa é o uso. Se a pessoa está ali usando em uma lata enferrujada, a função do redutor de danos é chegar ali e falar os riscos dela estar usando o crack naquela lata. Se a pessoa está usando no dinheiro, a gente tem que estar ali, no local do uso, e falar para aquela pessoa que o dinheiro tem muitas bactérias. Eu já usei muitas drogas, hoje eu sei, então eu posso passar tudo isso para que no uso deles eles tenham o mínimo de danos. Não é comparar, é que a dor que ele sente, a discriminação, o preconceito, tudo isso eu já passei. É o papel do redutor de danos alcançar os mais vulneráveis mesmo. Outra coisa, também, é você levar um usuário pro hospital. Talvez pelo uso da droga ele não tem a capacidade de ir lá procurar um médico. A gente tem que fazer esse papel porque, às vezes, se a gente não for com o cara lá, ele não vai se cuidar. Agora, eu trabalho muito na expectativa de vida da pessoa, de dizer pra ele que ele pode! Então o redutor de danos tem que ter esse sentimento também, de ver ali a pessoa no risco […] E chegar lá e querer, sentir no coração, que aquilo ali não tá certo. Que precisa mudar.

O que você pretende, enquanto redutor de danos, desenvolver nessas pessoas?

O que eu espero que ela alcance é a autonomia, a expectativa de vida, o conhecimento das leis dos usuários… Eu acho que eu posso fazer o que fizeram comigo. Se você for ver a minha vida antigamente, eu era um nada; um lixo. Hoje em dia eu continuo sendo um usuário de drogas, mas minha vida mudou. A droga não é ruim, às vezes é até boa, dependendo de como a pessoa use. Droga sempre existiu e sempre vai existir, o que falta é o conhecimento…

Quais são seus projetos de futuro?

Vê se eu faço alguma coisa pela redução de danos. Tocar a associação de usuários. Voltar a participar da AMEA. […] Estudar mais redução de danos. Ir mais a fundo. […] Tenho só três anos (de redutor).

Você sabe por que existe a Cracolândia? […] Por que os usuários gostam de se reunir ali? Sabe por quê? Porque entre eles ali não tem preconceito. Todos são iguais. Agora vá sair um usuário de crack dali e vá pra sociedade… É preconceito, discriminação. E eles querem usar. Mas aí é que tá, o redutor de danos tem que orientar um uso menos abusivo. É essa a função do redutor. Fazer com que o usuário tenha um uso menos abusivo pra saúde dele, entendeu?

8 thoughts on “Redução de danos

  1. SOU OU FUI PROBLEM[ATICO COM O ALCOOL, PONTUANDO EM TODA MINHA ACESTRALIDADE , RECENTE OU PRIMEVA-TATARAV[OS OS PROBLEMAS , PRINCIPALMENTE FAMILIARES COM O ALCOOL. tIVE 2 TIOS POR PARTE DO ME PAI , QUE ERA SERESTEIRO E BEBIA, MAS COMO CANTAVA NO CORAL DA IGREJA , SE REPRIMIA DE SE APRESE NTAR COMO BEBEDO. EU NASCI NESSE SISTEMA DE BEBER, DESDE O VINHO DO PORTO PADRE DA PAR[OQIA ONDE ERA COROINHA, AT[E, PASSANDO PELOS ESTDOS ACADEMICOS E PROFISS’OES COM O USO DO ALCOOL.

    HOJE ACHO QUE AS 1IRMANDADES` DO AA, PRINCIPALMENTE , EST’AO ESGOTADO POR N’AO SE ATUALIZAREM, QUE N’AO [E MITO PARECIDO COM OS NA,S, MAS ESSSAS REUNI’OES S’AO MITO CONFLITANTE PARA ~A CABE a cabe;a , do ~dependente~. Ha muitos anos no AA e servindo plenamente, hoe vejo que t[a ultrapassado de 100 fica -1, haja vista as mensagens doentias-esquizofrenicas do dependente, insto incluindo {as cooordena;’oes, acho que , se n’ao faliu [e preciso uma nova abordagem de tratamentos, n’ao t’ao dogm[aticos DE BIL E BOB! Quem se recupera l[a que fique….mas poucos ter’ao esse rivil[egio de aceitar esssas reuni’oes bipolares, esquizofrenicas e ineficientes.
    TOU TENTANDO, DEPOIS DE TODAS , TODAS MESMAS , AS TENTATIVAS, COMO RELIGI’AO ORTODOXA, MEDITA;’AO, PSICOTROPICOS, ETC. A REDU;’AO DE DANOS! MUITO RECENTE, MITO EMBRIONARIA, MAS QUERO FAZER PARTE A[TE PARA FUNDAMENTAR , COMO `COBAIA“ O QUE FUNCIONA E O QUE N’AO. CONCLUI!

  2. A redução de danos é uma ferramenta eficiente e eficaz, na tentativa de ajudar aqueles usuários que estão totalmente envolvidos com as drogas a e não consegue se vê lo sem elas.É importante se destacar o papel do redutor de danos é ele que pacificamente ira agir de forma tranquila ganhando espaço e confiança dia a dia, entendendo o seu papel e esclarecendo de forma clara e objetiva o que é redução de danos e como ela é realizada.

  3. É FASCINANTE E DESAFIADORA A POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS, POIS A PRIMEIRA QUE PRECISA ACONTECER É NOS DESPIRMOS DOS PRECONCEITOS, RECEIOS, DISCRIMINAÇÃO E PASSAR A ENXERGAR O SER HUMANO E NÃO APENAS UMA COISA SEM FUTURO E APENAS JULGAR. SOU AGENTE COMUNITÁRIA DE SAÚDE E ESTUDANTE DE SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO DIRETAMENTE COM USUÁRIOS E NESSE PROCESSO DE TRABALHO O MAIOR DESAFIO QUE ENFRENTO É FAZER COM QUE OS USUÁRIOS SEJAM BEM ACOLHIDOS PELO SERVIÇO DE SAÚDE GARANTINDO ASSIM O CUIDADO, ATENÇÃO E ASSISTÊNCIA DE ACORDO COM SUAS NECESSIDADES.
    A EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DA QUAL FAÇO PARTE DESENVOLVE UMA AÇÃO BEM INTERESSANTE QUE É O DIÁLOGO COM OS USUÁRIOS EM PONTOS ESTRATÉGICOS COMO BARES E ALI VAMOS FALANDO DE SAÚDE BUCAL, POIS PERCEBEMOS QUE ELES TEM UM INTERESSE MAIOR POR ESSE TIPO DE ATENDIMENTO, AI APROVEITAMOS PARA DISTRIBUIR PRESERVATIVOS, SERINGAS, SORO REIDRATANTE ORAL E DE ACORDO COM A NECESSIDADE DELES OU SE PEDIREM AGENDAMOS EXAMES E CONSULTAS COM PSICÓLOGOS, MÉDICO, DENTRE OUTROS. CONVERSAMOS TAMBÉM COM FAMILIARES OU AMIGOS PARA TENTARMOS UMA APROXIMAÇÃO E AOS POUCOS CONQUISTAR A CONFIANÇA DESSES.

  4. É possível como ferramenta de redução de danos, efetuar palestras constantes como parte de um processo sócio-educativo sobre drogas nas escolas tanto particular como nas redes públicas em todos os níveis.

  5. Estou de certa forma impactada com a leitura deste material. Todo o meu conhecimento anterior sobre redução de danos foi por água abaixo. Este trabalho é um dos mais difíceis e um dos mais importantes de toda a rede de cuidados ao usuário de drogas. Como tratá-lo sem impor limites, apenas oferecendo acesso a meios que o fortaleçam para que ele busque os seus próprios limites. Meu olhar ainda não está tão ampliado para entender este papel do redutor de danos, mas a partir de agora ficarei mais atenta.

  6. A redução de danos faz parte um conjunto de medidas necessárias na vida do usuário. Mas penso que em muitas situações o usuário não tenha controle sobre o seu vício ou consciência sobre os danos causados por ele.

  7. MUITO DIFÍCIL FAZER A REDUÇÃO DE DANOS, O ADICTO TEM UM LIMITE MUITO FRÁGIL, ENTRE O HOJE E O AMANHÃ, MAS ENTENDO SER IMPORTANTE PORTA DE ACESSO A ELE.

    • A redução de danos é algo importante, a teoria mostra exatamente como agir com um dependente e seus co-dependentes, porém na prática de fato é muito complexo afinal o tratamento de um dependente envolve várias etapas e cada um age de uma maneira, nota-se que essa fragilidade para o vício ocorre e é difícil a contenção e ocorre o sofrimento.

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